13 julho 2011

Medo de altura indica falta de equilíbrio

Frio na barriga, suor nas mãos e um aperto no peito são alguns dos sintomas enfrentados por pessoas com medo de altura (acrofóbicos) em situações tão cotidianas quanto atravessar uma ponte ou subir num elevador com vista panorâmica. A acrofobia, diferentemente do que poderia ser imaginar, não tem como principal causa traumas psicológicos envolvendo altura. Como indica uma pesquisa do Departamento de Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia da USP, o paciente com medo de altura enfrenta alterações no equilíbrio postural. Com a descoberta é possível apontar novos tratamentos para o problema, agora de olho em interações do corpo e cognição. 





A fisioterapeuta Catarina Boffino mostrou em sua dissertação de mestrado que o sistema vestibular — região do ouvido interno que ajuda a se equilibrar e perceber a aceleração e sensação da gravidade — dos acrofóbicos não funciona bem. No dia-a-dia, eles compensam essa dificuldade se equilibrando com informações que vêm da visão ou da superfície onde estão os pés. Como consequência, perdem o equilíbrio em lugares altos, onde ocorrem duas situações para os quais eles não estão preparados: necessidade de percepção visual de movimentos e interação entres os sistemas de neurônios responsáveis pela cognição e pelo controle do equilíbrio. O medo causado pela perda de controle do corpo se soma à fobia, que tem causas psicológicas. O resultado: vertigem, ansiedade e angústia que parecem desproporcionais.

A descoberta foi feita com teste em plataforma ligada a um computador para verificar o equilíbrio de 70 pessoas, sendo que 31 delas tinham medo de altura. A plataforma ficava fixa ou acompanhava o balanço para frente e para trás dos pesquisados. O equilíbrio foi analisado em voluntários jogando ou não um game de computador que exigia atenção visual, com a plataforma fixa ou balançando.

A experiência serviu para entender como os voluntários se equilibravam quando perdiam informações que os auxiliavam a ajustar a postura. Essas informações vêm da visão, da superfície e do sistema vestibular, e são processadas sem que as pessoas pensem, sem passar pelo córtex cerebral. O balanço da plataforma força o uso maior do sistema vestibular porque faz com que a pessoa perca as informações da superfície onde pisa exigindo uma adaptação para que a função de equilíbrio não se altere.

Com a plataforma constatou-se que o centro de massa dos voluntários que tinham medo de altura mudava mais de posição do que os que não tinham a fobia - quando eles estavam jogando com a plataforma movendo-se, por exemplo, o centro de massa variava 5 centímetros quadrados, contra 2 das pessoas sem acrofobia. Isso significa que o seu sistema de equilíbrio não conseguia controlar o desequilíbrio. Foi a primeira prova encontrada pela ciência de que os pacientes com medo de altura têm anormalidades no sistema que o corpo utiliza para se equilibrar. "Quando há uma situação de altura, em que o acrofóbico poderia utilizar a atenção para auxiliar a se equilibrar, ele não consegue", explica Catarina.

Acrofóbicos não experimentam medo em outras situações que exijam interação entre percepção do movimento e equilíbrio, como dirigir. “A ciência não sabe exatamente o que ocorre no sistema vestibular. Mas a interação entre a doença psicológica e o desequilíbrio poderia ser a causa da dificuldade em controlar os sintomas da fobia e da esquiva de locais altos por estas pessoas”. A dica de Catarina Boffino para quem foge de altura é aliar tratamento que combinaria terapia psicológica e fisioterapia para superar o mau funcionamento do vestíbulo.



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